Caiu a audiência do “Programa do Jô”. Segundo o jornalista Daniel Castro (“R7″), a temporada 2011 registra a mais baixa média de audiência de sua história. As primeiras 16 exibições do talk show neste ano registraram 6,4 pontos na Grande São Paulo, um a menos do que o mesmo intervalo em 2010. As 16 primeiras transmissões de 2009 renderam 7,8 pontos.
O resultado até aqui deixa o “Programa do Jô” abaixo de sua média em todo o ano de 2010, que foi de 7 pontos.
Trata-se apenas da confirmação em números da queda de qualidade. Mesmo sob fortes críticas nos últimos anos, o “Programa do Jô” permanece firme e forte na grade de programação da Globo. Porém, com essa audiência, o apresentador terá que suar seu terno xadrez de festa junina se não quiser enfeitar alguma geladeira da emissora.
Sempre existiram ressalvas ao desempenho de Jô Soares no comando de um talk show. Ele fala mais que seus entrevistados, interrompe exposições e costuma fazer piadas inadequadas. No entanto, seu programa era uma razoável opção para o início da madrugada. Contudo, de uns cinco anos para cá, o “Programa do Jô” degringolou de uma forma assustadora.
Dos convidados ao figurino do apresentador, nada parece funcionar. Sim, parece vil falar das roupas utilizadas por ele, mas não é. Que telespectador de bom gosto consegue ficar sintonizado durante uma hora ou mais vendo os ternos de festa junina de Jô Soares, um xadrez sem qualquer identificação ou caimento com o apresentador?
Por preguiça ou tentativa de não fazer justamente o que todos esperam, o “Programa do Jô” acaba não fazendo bom proveito do elenco de estrelas da Globo. Muitas vezes, ao longo de uma semana, apenas um ou dois contratados pela emissora aparecem por lá. Isso não quer dizer que uma entrevista com o jornalista Tadeu Schmidt (“Fantástico”) seja mais interessante do que um bate-papo com José Luiz da Rocha, anão e porteiro em um hotel de luxo. Há espaço para todos. Contudo, a má escalação dos convidados, muitas vezes dando espaço demais para desconhecidos desinteressantes, obviamente leva a queda da audiência.
Outro fato lamentável no “Programa do Jô” é a aparente falta de interesse do apresentador com seu trabalho. Desde os tempos de “Jô Soares Onze e Meia” (SBT) muita coisa mudou. Cada vez mais ele segue a risca o roteiro preparado pela produção, com nítidos sinais de que apenas passou os olhos sobre as perguntas antes da gravação, inibindo a capacidade de improvisação.
Na maior parte do tempo, Jô Soares apenas lê as perguntas preparadas. Em alguns casos, a leitura é relapsa. Ele solta frases do tipo “e aí, me conta a história do periquito”. A questão é feita tão fora de contexto que, além de quebrar a dinâmica do bate-papo, não é raro pegar o entrevistado de surpresa. “Periquito? Que periquito?”
Até a falta de algumas expressões corporais que revelam interesse é frequente – olhos fixos no entrevistado e corpo curvado em direção ao interlocutor, por exemplo. Compare uma entrevista de Jô Soares e de Marília Gabriela. Salta aos olhos o interesse e o preparo prévio da apresentadora. Claro que ela também conta com o suporte de uma produção, mas não deixa que o esforço da equipe seja o suficiente.
Por tudo isso, a queda na audiência é perfeitamente compreensível. O “Programa do Jô” se acomodou em berço esplêndido. Parou no tempo sobre o trono da emissora líder em audiência no país.
O apresentador iniciou sua carreira como entrevistador em 1988, no SBT, com o “Jô Soares Onze e Meia”. Permaneceu na emissora de Silvio Santos até 1999, quando retornou para a Globo, onde já tinha feito programas humorísticos como “Faça Humor, Não Faça a Guerra”, “Planeta dos Homens” e “Viva o Gordo”.
Justificar a falta de agilidade do “Programa do Jô” pelos longos anos em exibição não é algo aceitável. Nos Estados Unidos, o “The Late Show with David Letterman” (GNT) tem quase a mesma duração da atração nacional. Mesmo assim, apresenta um fôlego muito, muito maior.
Para tentar aumentar a audiência do “Programa do Jô”, a Globo ampliou o número de chamadas. Pouco provável que isso resolva, pois o problema é a preguiça generalizada na produção. Não ficarei surpreso se, durante o anúncio da programação do próximo ano, a Globo reduzir ou cancelar o “Programa do Jô”. Desgastado, o talk show pode ter o mesmo destino do “Casseta & Planeta, Urgente!”.
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